segunda-feira, 1 de novembro de 2010

***Hipóteses de escrita***



Queridos amigos e professores




Não há mais por onde escapar: ou nos unimos e nos atualizamos perante os novos estudos sobre "teoria do conhecimento" ou iremos viver em "eras arcaicas" até quando todas essas "mentalidades antigas" (palavras de meus professores da universidade "até a total extinção desses "dinossauros" da educação") possam ser renovadas com a medida do tempo e como faz parte da vida mesmo, tudo há de ser reposto, espero eu, que isso ocorra dentro de uma perspectiva remodelada e formatada para o "novo".
No fundo, tudo o que há de ser "novo" nos causa um certo medo e aflição e perguntas como "será que serei capaz de compreender isso", "será que conseguirei obter sucesso com meus alunos através desses novos métodos"?

Uma coisa posso responder de pronto: "teoria do conhecimento" não se trata de metodologia. Não há uma "cartilha" ou um "manual de instruções" para que ela aconteça pois, nela, está englobada em uma série de coisas: as vivências que a pessoa teve até o presente momento, seus estímulos, o conhecimento que ela possuí sobre determinadas coisas e principalmente: partir de elementos que a pessoa já conhece. Falo em "pessoa" pois tanto em crianças como adultos, a teoria do conhecimento acontece da mesma forma, ou seja, em andaimes.

O método antigo, o famoso "ba-be-bi-bo-bu-bão" já ficou para trás pois através de estudos, já foi comprovado que a "aquisição" (a construção) da leitura/escrita se dá da mesma forma de que quando uma criança que está aprendendo a falar, ou seja, seus entes não viram-se para ela dizendo "olha bebê: ba-be-bi-bo-bu-bão viu!", "pa-pe-pi-po-pu- pão tá?", ou seja, o que gostaria de explanar com isso, é que a aprendizagem acontece num contexto social, da mesma forma que conversamos com uma criança que está na eminência de dizer as primeiras palavrinhas, ou seja usando-a socialmente como por exemplo: "cuidado bebê, você pode se machucar", ou mesmo "vamos tomar banho?", observe quantas famílias silábicas utilizamos somente nessas simples frases?  Então, qual o sentido lógico de  fragmentar as sílabas a ponto de memorizá-las ou invés de partir de um contexto em que as crianças gostem e compreendam de verdade?
Certa vez, com uma dessas crianças que desenvolvem aprendizado por "memorização" foi pedido que ela escrevessea a palavra "vaca". Ela a escreveu pois "vaca" é uma palavra muito utilizada dentro do contexto tradicional de ensino.

Depois, a professora sugeriu que a criança escrevesse "cavalo". Pela lógica, pelo menos o "cava" ela teria que escrever ja de uma vez que é o contrário de "vaca".
Resumo: deu um branco na cabeça da criança e ela literalmente "travou", não conseguiu escrever mais nada. O que podemos concluir com o estudo desse caso?
Resposta: o método tradicional de ensino mão é eficaz  pois não "obriga" a criança a refletir, a pensar sobre o que ela está fazendo, ou melhor: tentando fazer.
Ela não escreve tão mecanicamente que não consegue compreender que ao trocar as sílabas de lugar "vaca" abre espaço para a metade da palavra que se pretendia "cava" de "cavalo".

Estou escrevendo este texto com minhas próprias palavras e  para não ter dúvidas, digitei no google "hipóteses de escrita segundo Emília Ferrero" e a primeira coisa que apareceu foi: nível 1....., nível 2....., só a partir daí quase caí das pernas pois vejo cada absurdo escrito na internet que nem sei o que pensar pois trata-se de algo incontrolável, quem não tem estudo teórico sobre esse tema ainda se depara com cada bobagem sem precedentes como essas, "acha" que consegue ser auto-didata e entender esse mecanismo que é tão profundo, tão cinetífico, tão "teórico".  
Primeira questão: o que há dito como "nível" não é assim que funciona: são HIPÓTESES DE ESCRITA, pois o aprendiz, supõem hipóteses que vão sendo formuladas como já disse anteriormente em "andaimes" baseadas no pensamento de cada um, é algo intrínseco e o esforço dessa forma deve partir de cada um, refletindo sobre cada código da escrita.
Imagine um andaime: ele vai se encaixando um em outro e cada vez ficando maior e mais fortalecido. POr isso a comparação da "construção do conhecimento" com tal "ferramenta".

Vou explicar porque então não se trata de "nível" ou "etapa". Comparando-se ao crescimento de uma criança que primeiro passa pelo nível ou etapa de levantar a cabeça, depois outro nivel ou etapa de comer alimentos feito papinha, evoluindo esse nível ou etapa, a criança passa pelo nível ou etapa de alimentos mais solidificados quando já possui dentição, enfim....isso são níveis ou etapas, algo que "obrigatóriamente" a criança passa, raramente pulando fases, salvo crianças realmente muito adiantadas neurologicamente falando.

Dentro da teoria do conhecimento, há cinco hipóteses de escrita sendo:
1) pré-silábica,
2) silábica sem valor sonoro,
3) silábica com valor sonoro,
4) silábico-alfabética e
5) alfabética. 

Dentro dessas expectativas, a criança pode sim, evoluir de hipótese de escrita, passando de uma para a outra ou mesmo "pulando" hipóteses e chegando a construção de um conhecimento sólido, sem a "necessidade' de passar pelo que anteriormente alguém chamou de "nível". Traduzindo:

PRÉ-SILÁBICA: hipótese bem inicial de alfabetização, levando esse nome crianças que escrevem sem controle nenhum de número de letras (ex.: montes de letras que já conhecem, utilizando-se muitas vezes das letras do próprio nome). Quando a criança tem restrição de letras, ou seja, não possuem um repertório de letras muito extenso, elas utilizam em listas, por exemplo, as próprias letras que conhecem, trocando-as de lugar, e por vezes utilizando-se até mesmo de números ou desenhos. Dentro desta hipótese a criança aindapode não ter definido muito bem o papel das letras, fazendo uso até do que chamamos de "garatuja". Trata-se de uma hipótese bem inicial da aprendizagem.

SILÁBICA SEM VALOR SONORO: a criança já evoluiu um pouco em suas hipóteses iniciais pois já começou a perceber através de palavrinhas demonstradas a ela que para cada escrita existe um número e variação de letras e isso exige um controle. Não adianta "falar' declaradamente isso a criança, a criança precisa "perceber" através de algumas palavras que a professora deve ir demonstrando, ou seja, escrevendo para que seja notado. Nesta hipótese, a criança ainda pode nçao ter notado o valor sonoro de cada palavra, sou seja, ela ainda pode escrever letras desconexas entre si, porém já controlando e demonstrando isso quando pede-se para "ler o que escreveu', e "apontadar como dedo cada letra que esta sendo lida", procura justificar o número de letras e sua variação, mesmo que isso lhe pareça conflituoso inicialmente.

SILÁBICA COM VALOR SONORO: Já nesta hipótese podemos dizer que a criança teve um salto qualitativo em relação às hipotéses primárias em que ela começou a desenvolver aprendizado siginificativo. Quando a criança atinge essa hipótese, ela atribui letras, que podem nem ser todas, à letras que coincidem com as palavras solicitadas. Essas letras vão "surgindo" aos poucos, o professor nçao pode "pensar" que nessa hipótese o aluno está "comendo letras"como nos era dito quando éramos crianças, e sim, a criança está "colocando" letras, a medida em que vai se apropriando desse conhecimento.

SILÁBICO ALFABÉTICA: gente prestem atenção hein! Está cheio de "pessoas por ai", escrevendo "silabica-alfabetica", prestem atenção no termo viu: "silábicO alfabéticA". Lembrem-se de que se trata de hipótese de escrita e deve ser colocado dessa forma. O pior: canso de ler essas escritas errôneas em documentos oficiais de escola {humpfts}. NEsta hipótese a criança não é nem uma coisa nem outra, é a hipótese em que ela "oscila" e a chamamos de "híbrida". Por vezes a criança escreve silabicamente, por vezes escreve alfabéticamente. É uma hipótese muito conflituosa para a criança.

ALFABÉTICA: finalmente! Sei que há uma jornada até aqui, por vezes longa, por outras sem traumas, leve como uma pétala ao vento, mas não podemos negar que para algumas crianças chegar até aqui, a jornada é bastante árdua e as vezes até cansativa, tanto para  professor, como para o aluno.
Quando a pessoa atinge essa hipótese, ela já formulou tudo o que poderia em relação a construção do conhecimento da escrita, mas isso não significa que também ela esteja o que chamamos de "plenamente alfabetizado", são coisas completamente diferentes. Quando a criança atinge essa hipótese, ela já comprendeu quantas e quais letras precisa para escrever as palavrinhas, ela ja consegue se expressar em pequenos textos que sabe de memoria e outros que vai construindo a medida em que é estimulada. O termo "alfabética" é apenas a designação para quem compreende de estudos epistemologicos em que a pessoa em questão já adquiriu a construção do conhecimento, basta o professor detentor desse conhecimento, aplicar atividades que propiciem o aprendizado de ortografia, textos, pontuação, gramática, nossa, eu leio tanta besteira na internet, tem gente que não tem nenhum conhecimento científico sobre esse assunto e fala que ser "alfabética" é saber tudo sobre a língua escrita. Outro dia minha sogra falou queu quem estragou todo o procedimento foi essa tal de Emília Ferrero. Imediatamente ja tratei de esclarecer que não tem nada haver uma coisa com a outra, mas isso é assunto para outro post.



Espero ter conseguido ajudar um pouco aqueles que não conhecem sobre a teoria do conhecimento e que a partir deste post, possam estudar um pouco mais o livro que recomendo é:
PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA. Ferrero, Emília



Beijokas,
Professora Sy

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